Você já ouviu falar sobre a Internet das Coisas (IOT, na sigla em inglês)? Se não, não se envergonhe: pouca gente fala sobre esse conceito que se refere à integração e conexão de itens usados no dia a dia na rede mundial de computadores. A ideia é que, à medida que mais produtos e aparelhos são conectados, e conforme crescem as capacidades analíticas, novas aplicações para a Internet vão surgir. Na prática, objetos como geladeiras, óculos e até roupas tenham algum tipo de solução ou utilidade ligada à rede mundial de computadores.
O que parece ficção científica, na prática, já é bem real, inclusive no Brasil. Não por acaso o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações criou a Câmara de Internet das Coisas (IOT), um fórum multissetorial composto de representantes do governo, iniciativa privada e universidades para discutir o desenvolvimento do mercado de IOT no país. Inovação para alavancar os negócios brasileiros no exterior – um dos motes principais da campanha Be Brasil, que promove um Brasil confiável, sustentável, inovador e criativo no mundo dos negócios. Na última segunda-feira (14/08), o coordenador geral de ciência e tecnologia da Secretaria de Política de Informática, do Ministério de Ciência e Tecnologia, Thales Marçal Vieira Netto, esteve na Apex-Brasil para apresentar os trabalhos desenvolvidos pela Câmara e para avaliar como a Agência pode ajudar nas discussões. O Blog da Apex-Brasil aproveitou a visita de Thales Marçal para entender melhor que coisa é essa de IOT.
A Internet das Coisas já é uma realidade ou ela ainda está no campo da pesquisa e conjecturas? Olha, se ela não é uma realidade no mundo como um todo, pelo menos já tem alguns casos de uso conhecido, como os sensores de relógios, usados para monitorar a corrida do usuário, com trajeto, velocidade e dados do corpo, que são analisados e enviados por e-mail. Isso é a IOT na veia. Outro exemplo é o de monitoramento de ônibus e trens informando quanto tempo falta para o veículo chegar na estação. Agora, no sonho mais longínquo ainda estamos na prancheta. Um carro autônomo, sem motorista, por exemplo, é um caso de internet das coisas realizável, mas ainda um pouco distante de entrar no nosso cotidiano. Então, a IOT já existe, mas o avanço previsto para esse conceito ainda está para acontecer para daqui há alguns anos.
E como o Brasil se coloca no mundo quanto a esse conceito? Na discussão da sociedade de como desenvolver e utilizar a internet das coisas no dia a dia das pessoas estamos muito bem. Naquilo que envolve o debate entre sociedade, governo e iniciativa privada, o Brasil é até pioneiro. Porque começamos a reunir essas partes ainda em 2014. Para você ter uma ideia, o ato americano para discutir essa questão aconteceu somente no início de 2016.
E o Brasil como ator? Como se posiciona no processo de desenvolvimento e utilização da internet das coisas? Como ator, é importante ficar claro que a IOT não é uma tecnologia nova. Ele é a aplicação de várias tecnologias que já existem e que, juntas, vão gerar inteligência necessária para soluções do dia a dia. Nesse aspecto, o Brasil tem técnicos, tecnologia e empresas no estado da arte e da conectividade para inserir o país em uma realidade de Internet das Coisas. É assim na produção de software, de fotônica, na engenharia de materiais, etc. Então, nos colocamos na qualidade de um competidor de soluções de IOT. O que falta é a gente fazer todo mundo trabalhar em sintonia.
Mas, na prática, temos exemplos reais no Brasil? Sim! Já existem casos de startups brasileiras consolidadas que aplicam o conceito de IOT no monitoramento de áreas rurais, no controle de pragas, de monitoramento de solo, no controle da produção, etc. São empresas que integraram conjuntos de sensores e softwares para gerarem informações valiosas no manejo de culturas. Isso é IOT.
A utilização de IOT é muito abrangente. Existe uma priorização de desenvolvimento desse conceito no Brasil? Sim. Encomendamos um estudo sérios para identificamos áreas prioritárias. Então passamos a estudar onde cada aplicação de IOT teria maior demanda e onde teríamos maior capacidade de adensamento de cadeia produtiva dentro do Brasil. Foram mapeadas quatro áreas: no ambiente rural, nas fábricas, nas cidades e na saúde. Dessas quatro, foi apontado que a área de maior demanda seria na aplicação de soluções para cidades inteligentes. E a que tem maior facilidade de desenvolvimento tecnológico para aplicação seria o ambiente rural.
Mas não é no ambiente rural onde temos mais problemas de conectividade? Sim. Conectividade é uma nota ruim, mas, ao mesmo tempo, somos um país agrícola, com muita demanda para melhorar a produtividade no campo. É uma área com muitos recursos e onde se desenvolve muita pesquisa. Então, ela tem uma facilidade de desenvolvimento de IOT para o ambiente rural.
Quais outros destaques a pesquisa apresenta? Vimos que a área em que aparecia o maior número de ofertas para soluções em IOT era o do setor de saúde. Hoje, já existe muita gente pensando nesse caminho. Tem também o ambiente de fábricas que é a cara da competitividade e adensamento da produtividade. É onde se Usa a IOT como previsão de risco, para o controle de estoque, logística tudo que aumente a qualidade do serviço e do produto.
E no futuro, quando o IOT for uma realidade em todo o mundo, qual seria a vocação brasileira nessa cadeia global? Essa é a pergunta chave. É o que temos que identificar daqui para frente, quando estivermos com o plano de ação na mão e as empresas interessadas estiverem focadas para o mercado global.
E qual o papel da Apex-Brasil nesse processo? Nós estamos exatamente no momento de ouvir a Apex-Brasil e entender como que ela pode colaborar nesse processo. Em um primeiro momento pensávamos na Apex-Brasil como parte de uma ação para internacionalizar soluções brasileiras, como promover empresas brasileira no exterior. Mas nosso encontro hoje revelou novos campos de ação, como, por exemplo, buscar recursos no exterior para aplicar em empresas nacionais com potencial de mercado global o interno.
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