Foi em uma conversa entre amigos, em 1974, que Germano Piccin resolveu usar todo seu conhecimento em mecânica para ajudar seu compadre: um cirurgião dentista que precisava consertar um articulador, aparelho dental usado para simular os movimentos da boca. O produto era importado, o que dificultava a vinda dos componentes para o Brasil. Com olhar de empreendedor, Germano percebeu ali uma oportunidade de criar e vender artesanalmente seu próprio articulador, o primeiro feito no Brasil. Um bom exemplo de inovação e criatividade, dois atributos presentes na campanha #BeBrasil.
Mas o caminho para o sucesso não foi fácil. No início, prontos para serem testados, os protótipos foram distribuídos pelo empresário em algumas faculdades, especialmente na Faculdade de Odontologia de Araraquara do Campus da UNESP, mas não obtiveram o resultado esperado. Só dois anos depois, a UNESP aprovou e encomendou 80 unidades do aparelho. Em 1977, no quintal da própria casa, o empresário fundava a empresa Bio-Art Equipamentos Odontológicos Ltda. Depois do primeiro pedido, outras faculdades começaram a adquirir o produto, como a USP de Bauru, a PUC de Campinas, entre outras.
A CEO da empresa, Maria Isabel Piccin, acredita que o que motivou Germano a encarar os desafios dos primeiros anos da Bio-Art foi seu espírito empreendedor. “Nos primeiros anos de vida da empresa, as maiores dificuldades se concentraram na falta de capital para expansão e produção em larga escala, a fim de atender a demanda do mercado ”, declara Isabel. Ao longo dos anos, a empresa foi crescendo e se estruturando, prezando pela qualidade do produto e, principalmente, pela satisfação do cliente.
A PRIMEIRA FEIRA INTERNACIONAL
A primeira exportação da Bio-Art foi realizada em 1988 para Portugal, segundo os registros encontrados. De 1988 até o final da década de 90, os clientes tinham que ir até a empresa buscar os produtos. “Um dos poucos veículos de comunicação internacional que utilizávamos até então era a participação no Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo (CIOSP), além dos contatos com professores formadores de opinião, que viajavam e levavam nosso produto para o exterior, como foi o caso de Portugal”, relembra Isabel. Durante esse período, as exportações cresceram na América Latina: Uruguai, Venezuela, Equador, Peru e México.
O trabalho de internacionalização da empresa teve início nos anos 2000, e aconteceu de forma proativa e planejada. Na década de 90, a empresa ainda se estruturava para suportar a demanda nacional, que era maior do que a sua capacidade produtiva. “Não fazia sentido buscar o aumento das exportações sem uma estrutura que pudesse corresponder a demanda ou a um pós-venda, e que colocasse em risco a credibilidade da empresa”. Assim, durante esse período, foi realizado um grande trabalho de estruturação da produção. Procedimentos de controle e planejamento da produção foram implantados para que a obtenção do produto ocorresse no tempo certo, na qualidade desejada pelo cliente e a um preço competitivo.
A participação em grandes feiras internacionais foi um dos recursos usados pela Bio-Art para atrair compradores. A primeira feira fora do Brasil da Bio-Art foi a “ADA Trade Show”, em Orlando (EUA), em 1995. Depois, a empresa foi a primeira brasileira a participar do maior evento do ramo odontológico: a International Dental Show (IDS), que acontece em Colônia, Alemanha, a cada dois anos. Até hoje foram oito participações consecutivas.
Para Isabel Piccin, valorizar a relação com o cliente é um dos pontos de sucesso na trajetória: “Isso já faz parte do nosso DNA. Além das participações em feiras internacionais, a empresa passou a investir em viagens para visitas a clientes e instituições acadêmicas estrangeiras, com o intuito de se aproximar cada vez mais do cliente formador de opinião para a abertura e desenvolvimento de mercados. Estes contatos também sempre foram muito importantes para estimular a inovação nos processos e no produto”, conta.
AS CERTIFICAÇÕES ISO
No início dos anos 2000, a Bio-Art seguiu rumo às certificações ISO 9001 e BPF (Boas Práticas de Fabricação), que seriam o novo cartão de visita da empresa, principalmente no mercado internacional. Em 2003, recebeu a certificação ISO 9001; em 2004 a BPF e, em 2006, a ISSO 13485. Posteriormente, a empresa precisou adequar o articulador dental para a Comunidade Europeia.
Hoje, a Bio-Art exporta para mais de 60 países nos cinco continentes, é líder mundial na fabricação e comercialização de articuladores semi-ajustáveis e top “3” com a máquina de plastificar moldeiras a vácuo (Plastvac P7), produto distribuído nos Estados Unidos desde 2012, por meio de parceria com a Dentsplay Inc, maior empresa do mundo no ramo odontológico. Atualmente, as exportações da Bio-Art representam 36% do faturamento da empresa.
UM MUNDO MELHOR SEGUNDO GERMANO
Segundo Isabel, o espírito empreendedor, a dedicação, a determinação e claro, a aptidão do fundador com a mecânica, fizeram a diferença na construção da história da Bio-Art. “O senhor Germano acredita que é possível mudar o mundo por meio do exemplo, de uma conduta ética, transparente e honesta, valorizando as pessoas e o meio ambiente. Na empresa, isso se traduz em produtos que possam contribuir para a saúde e a qualidade de vida das pessoas”, declara Isabel. Quando perguntamos para a CEO da empresa como ela vê o futuro da Bio-Art, a resposta está na ponta da língua: mundialmente reconhecida por desenvolver e oferecer soluções inteligentes na área de saúde. E ainda cita uma frase que Germano costuma repetir: “o atendimento e a satisfação do cliente têm de estar sempre em primeiro lugar. E nós, nós devemos estar sempre à frente, ditando tendências”.
Texto originalmente publicado em 2 de setembro de 2014
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