A fazenda Camocim, localizada em Pedra Azul, no Espírito Santo, ficou famosa por produzir um dos mais preciosos e raros cafés do mundo: o café Jacu, extraído a partir dos frutos ingeridos e expelidos pelo Jacu, pássaro comum na região.
O produto, que atinge mais de 90 pontos na escala SCAA – uma metodologia de avaliação criada pela Associação Americana de Café Especiais – é mesmo acima da média. Quase toda a produção vai para o exterior, onde compete de igual para igual com os melhores do mundo.
Mas a Camocim tem sido cada vez mais citada por outra característica: a determinação em manter a fazenda dentro de um modelo sustentável de produção de agrofloresta, aquela em que a cultura é feita dentro da mata, preservando fauna, flora e sem uso de agrotóxico. Sustentabilidade e determinação: dois dos pilares da campanha Be Brasil, narrativa que promove o Brasil como parceiro estratégico, confiável e inovador no mundo dos negócios.
Os proprietários da fazenda trabalham com essa técnica desde que iniciaram o cultivo do café e agora estão envolvidos em um projeto que pretende difundir o método entre os produtores de Pedra Azul, um trabalho feito junto a Associação Brasileira de Cafés Especiais, parceira da Apex-Brasil no projeto setorial Brazil the coffee nation.
Não por acaso a propriedade será um dos temas da série da B2B, produção da Apex-Brasil que será exibida na rede CNN internacional. O programa vai apresentar as boas experiências empresariais brasileiras ligadas à sustentabilidade, inovação e criatividade.
O Blog da Apex-Brasil acompanhou as gravações do episódio e aproveitou para conversar com duas figuras importantes nos processos da Camocim: o supervisor da fazenda, Rogério Lemke, e Rafael Marques Cotta, o avaliador de qualidade dos cafés, produzidos nos mais rigorosos padrões de qualidade orgânica.
Como nasceu a ideia de uma fazenda com produção cafeeira 100% orgânica?
Rogério Lemk – A fazenda já nasceu com essa ideia: fazer um café orgânico, certificado e de olho na qualidade no lugar da quantidade. Já a história do café na Camocim teve início com o avô do seu Henrique Sloper, atual proprietário da fazenda. A Camocim está na família há mais de 70 anos e foi pioneira na produção de café na região. Desde sempre a plantação era feita em consórcio com a mata. Onde não havia mata, nós plantávamos as árvores. Começamos em 1999 já com certificado orgânico.
E o café Jacu? De onde veio essa ideia de utilizar as frutas que o pássaro come e libera com as fezes?
Rogério Lemk – Quando os primeiros frutos do café começaram a brotar na propriedade, apareceram os Jacus, que até então só comiam frutos como pitanga, palmito e outros alimentos. Eles adoraram o café e se tornaram um problema. Procuramos respostas junto aos órgãos ambientais para afastar as aves, mas nada dava certo. Foi quando o Henrique se lembrou da história do café do Kopi Luwak, da Indonésia, o mais caro do mundo, cujo o processo é semelhante ao que fazemos com o café Jacu, só que, no lugar de uma ave, é um pequeno mamífero que ingere e expele o fruto.
Em quanto tempo vocês chegaram ao produto final?
Rogério Lemk – Fizemos um processo de pesquisa que durou um ano e meio. O café Jacu começou a ser produzido em 2006. A primeira safra comercial foi em 2007. O Jacu teve papel importante para lançar os produtos da fazenda como diferenciados. Uniu qualidade e exotismo e introduziu a produção na fazenda de café torrado e moído. Mas o café Jacu representa apenas 2% da nossa produção, por isso o preço.
E como funciona essa produção de café em harmonia com a mata?
Rogério Lemk – É uma maneira de trabalhar em conformidade com a natureza. Se abrimos uma área para o plantio que não tem árvores, plantamos o cafezal com a liquidâmbar, uma espécie canadense que se adaptou muito bem ao café. O método forma uma proteção natural, protege o solo de erosão. Como se não bastasse, essa mata atrai animais silvestres, como o Jacu. A fazenda já tem certificado orgânico desde 1999. Depois também se tornou biodinâmica.
Como é a relação da produção da fazenda com a exportação?
Rafael Marques – A exportação representa 95% da produção da fazenda. Vendemos para todos os continentes e para mais de 15 países, entre eles Japão, Estados Unidos, Austrália. Na verdade, não conseguimos atender a todas as demandas.
Por isso a ideia de ampliar a produção de cafés especiais na região?
Rafael Marques – Exatamente. Estamos tentando expandir esse modelo de produção de café orgânico da fazenda Camocim para outros produtores por meio de uma linha de crédito aberta pelo Banco Nacional de Desenvolvimento. A ideia é levar toda a informação e incentivo para produtores que ainda não fazem esse tipo de produto. O projeto é voltado para a região e demanda um pouco da iniciativa privada e pública, mas o principal ponto é a conscientização do produtor para esse mercado de cafés especiais.
E as vantagens de aderir a esse modelo orgânico e biodinâmico?
Rafael Marques – Os benefícios são claros. Além de atingir um mercado enorme no exterior, esse modelo diz respeito à saúde do consumidor e à conservação do meio ambiente. No caso da região de Pedra Azul, existe a vantagem de existir uma mata atlântica ainda preservada, onde os cafés podem ser inseridos com sucesso.
Saiba mais sobre a campanha Be Brasil em www.bebrasil.com.br/pt
Confira o teaser do episódio sobre a qualidade dos cafés brasileiros da série B2B
Comments