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Estudo da Apex-Brasil mostra oportunidades para produtos brasileiros no mercado indiano

A Índia é a terceira maior economia entre os países asiáticos e uma das que mais cresce no mundo. Tem um mercado gigantesco e até 2025 terá a maior população do planeta. Apesar dos números, o Brasil ainda explora muito pouco as possibilidades de negócio com o país.

Um estudo desenvolvido recentemente pela área de inteligência da Apex-Brasil apontou as melhores oportunidades para exportação de produtos brasileiros nos setores de alimentos e bebidas e couros. As possibilidades são grandes, inclusive de ampliar a exportação de produtos que o Brasil já envia para a Índia, como açúcar e soja.

O Blog da Apex-Brasil conversou com os dois autores do estudo, os analistas de inteligência para Ásia e Oceania João Ulisses Rabelo Pimenta e Patrícia Steffen. Confira a entrevista e entenda porque a Índia tem que entrar na mira dos exportadores brasileiros.

Blog da Apex – A economia indiana cresce com uma variação positiva de 7,4% ao ano. É um dos maiores índices entre os países em desenvolvimento. No entanto, a participação da Índia em nossas transações comerciais é de apenas 2%. Por que isso?

Ulisses: A relação comercial entre o Brasil e a Índia é mesmo muito baixa em termos totais. Isso tem muito a ver com o distanciamento cultural entre os dois países. Não vemos tantos indianos no Brasil nem brasileiros na índia. Existe um desconhecimento mútuo entre as duas nações. Para dificultar ainda mais, a Índia produz muita coisa que o Brasil também produz, como, por exemplo, frutas, açúcar e café, onde competimos internacionalmente.

Patricia: Existe, porém, um movimento para mudarmos esse quadro. Há um consenso de que esse é um mercado promissor. Trata-se de um país que já está crescendo mais que a China. Em 2017, a Índia deve crescer 7,17%, enquanto a China vai ficar na casa dos 6,5%.

Blog da Apex – Esse estudo é sinal de que o interesse do Brasil pela Índia pode estar mudando?

Patricia: Esse estudo foi uma demanda do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que preparou uma missão de aproximação com a Ásia. Produzimos vários estudos da região, incluindo o da Índia. O que fizemos foi a atualização de um documento feito em 2012 a partir de uma viagem realizada pelos pesquisadores. Mas, desde 2004, os dois países vêm assinando acordos e memorandos para facilitar as transações comerciais.

Ulisses: O estudo também mostra uma ação que tem sido um foco da Apex-Brasil, que é trabalhar setorialmente. Quanto mais genérico, menos profundo você é. Para aprofundar mais, nós trabalhamos com setores e segmentos de setores, o que nos permite maior detalhamento das análises.

Blog da Apex -Muitas oportunidades apontadas na pesquisa mostram espaço de crescimento em setores nos quais os dois países competem. Como isso se dá?

Patrícia: Brasil e Índia são mesmo competidores em alguns alimentos, como, por exemplo, o açúcar. Concorremos no mercado internacional, mas a produção indiana sofre muito com a seca e é comum perderem a safra, por isso importam nosso produto, cuja produção é constante. As importações de produtos brasileiros cresceram 53,94% entre 2011 e 2014. Esse resultado é, em boa medida, pela importação do açúcar brasileiro.

Ulisses: Outro exemplo é o café. Eles consomem e vendem o tipo robusta. Mas existe um espaço para a penetração do café arábica, que é o que o Brasil mais exporta. A Índia compra muito desse produto para processar e reexportar como forma de café solúvel. Nessa área, o Brasil tem espaço para crescimento, já que, em 2014, foi o 7º fornecedor de café para a Índia, com vendas de US$ 1,09 milhão, ou o correspondente a 0,81% de participação no mercado. Tem muito o que crescer nesse segmento. Isso sem falar nos café gourmets, um costume ocidental que aos poucos vai entrando na Ásia. São nichos de mercado que abrem oportunidades para o Brasil.

Blog da Apex -E o óleo de soja? Ele é o produto que mais exportamos para Índia. Ainda tem espaço para crescer nesse setor?

Ulisses: A Índia é o maior importador mundial de óleo de soja. O Brasil é um dos maiores competidores, mas na Índia brigamos com a Argentina, que tem 80% do mercado. Isso porque a Argentina comercializa o óleo enquanto vendemos os grãos. Essa é uma questão de estratégia da nossa indústria. Mas ainda há oportunidade. O consumo de óleo comestível per capita no país está abaixo da média mundial, o que aumenta o potencial para o crescimento das vendas desse produto.

Blog da Apex -Falando do mercado como um todo, as características socioeconômicas da Índia podem ser um complicador, dado a diversidade e a alta concentração de renda do país?

Patrícia: A Índia tem lá suas burocracias. O mercado é composto de castas, com uma pobreza muito grande e enorme concentração de renda. Mas o número de ricos vem aumentando cada vez mais. O valor real do consumo interno – principal motor da economia – cresceu 6,3 % em 2015. Espera-se que em 2017 esse crescimento seja de 7,17, %. O país também adotou uma série de estímulos para o consumo, como redução do custo de energia, crédito facilitado e aumento da oferta de postos de trabalho.

Blog da Apex -O estudo é basicamente para os setores de bebidas e alimentos. Qual o perfil de alimentação do indiano?

Patricia: Tivemos acesso a dados de gastos do consumidor com alimentos. Na Índia, mais de 21% do consumo tem como base pães e cereais, outros 21% com óleos e gorduras, 19% açúcar e confeitos e 15% verduras. É um perfil de consumo bem distinto. Em outros mercados já desenvolvidos, como os dos EUA, o açúcar responde só por 5,4% e carnes por mais de 20%.

Ulisses: E o interessante é que 80% do consumo é feito em feiras livres, e a proteína mais consumida é o frango, que é adquirido fresco. O sujeito compra o animal para ser abatido em casa. Mas nós acreditamos que esse hábito deve mudar aos poucos e o frango vai passar a ser comercializado congelado. Nesse cenário o mercado beneficia e muito o Brasil.

Especiarias como o cravo-da-Índia e produtos como a manteiga de cacau são oportunidades de negócio no mercado indiano

Blog da Apex -Esse comércio feito em sua maioria em feiras não seria um entrave para produtos brasileiros?

Ulisses: Essa questão é mesmo importante. Pode representar uma dificuldade. O varejo indiano não é muito desenvolvido. Mas não chega a ser uma barreira. É preciso gastar um pouco mais de sola de sapato para encontrar o canal ideal de distribuição. Mas uma vez estabelecida essas conexões, as possibilidades de negócio são grandes.

Patricia: Nas feiras livres que vistamos, existem vários produtos industrializados. Eles não são restritos só a frutas e verduras. Lá você encontra suco em caixa, várias marcas americanas, cereais e uma infinidade de produtos importados sendo vendidos nas ruas. Além disso, aos poucos, eles estão abrindo supermercados gourmets com vários produtos importados dos Estados Unidos, Israel, China, etc.

Blog da Apex -Estamos falando de alimentos em que temos escala e que podem atender as demandas de um mercado gigante. Mas o estudo também fala de muitos produtos que ainda têm pouca penetração no país.

Ulisses: Identificamos oportunidades nas especiarias. O mercado indiano foi o maior importador global de cravos-da-Índia, com 29,73% do total mundial. O Brasil foi o terceiro maior exportador global do produto. No entanto, no mercado indiano, o Brasil posicionou-se como o 6º maior fornecedor de cravo-da-Índia, com participação de 0,95% do mercado. É muito pouco. Temos muito espaço para crescer.

Patricia: Outro produto é a manteiga de cacau. As vendas de chocolate no mercado indiano aumentaram graças a uma melhor distribuição, em particular nas zonas rurais e em cidades pequenas. O consumo de manteiga de cacau cresceu na Índia graças ao aumento das vendas de chocolate. A previsão é que as vendas aumentem em média 18,71% até 2020, chegando a um valor de US$ 4,3 bilhões em 2020, mais que o dobro comparado a 2015.

Blog da Apex -É um mercado a ser descoberto e que exige perseverança de quem quer exportar. Como começar esse processo?

Patricia: Acho que os exportadores podem começar a exportar por uma trading (comercial exportadora) e depois poderia desenvolver sua rede de distribuidores na própria Índia. Para isso, é necessário que o empresário faça viagens e reuniões com atores do mercado. E talvez isso não seja tão complicado. Nas missões em que nós participamos, vimos os indianos reclamando que sentem falta da presença brasileira na Índia. Eles estão abertos para o Brasil. É um povo simpático e com muito interesse no nosso país.

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